quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Infância do futuro


O tempo...


Demora pra passar, pra gente ficar grande. Poder entrar no brinquedo do parque de diversão. Pra poder dormir mais tarde. Pra poder falar palavrão. Pra gente poder chegar em 2 dígitos na idade - poucos saem deles. Pra poder entender as conversas de adulto. Pra escolher comer o que a gente mesmo quer. Pra gente tomar coragem e falar com a menina que a gente namora 'mas ela ainda não sabe'. Pra gente ser astronauta. Jogador de futebol. Bombeiro. Pra gente rir das coisas que aprontamos juntos com aquele amiguinho. Que nem é mais tão amiguinho. Que o leite não vem da caixinha. Que a batata não é um palito.
E de repente começa o tempo á passar. Eu aprendo que não é 'eu não 'cabo' mais' e sim 'caibo' aonde eu costumava entrar. Que eu 'conxégo' sim, o que eu quiser muito e estiver disposto á buscar.

Começo a descobrir: Meus carrinhos, bonequinhos do comandos em ação ou He-man são legais, mas conversar (puta negócio de gente velha!), é muito legal também. Que meninas não são mais tão inimigas quanto eram. Que dormir é bom, mas ficar acordado fingindo que dorme e conversando, rindo de besta também, é muito legal. Que antes de dar um primeiro beijo, a gente escuta quem já deu falando e fica com a barriga gelada de tanto medo. E a primeira vez é estranho... falam tanto de beijo e o negócio tem gosto de baba!
Que aprontar algumas coisas, pode nos render castigos memoráveis. Memoráveis mesmo. Ou surras gigantescas. Lembro bem. Que fugir de alguma travessura com um amigo gordinho é uma merda. Sempre ele cansa mais rápido e nunca pula o muro de uma vez. E eu que não consigo correr sozinho, volto pra ajudar e sempre-quase me pegaram. Porque quando me pegaram, me dei mal de verdade.

Pêlos começam a nascer. Puta negócio estranho. Eu não tinha e queria. Quando começou a nascer na canela, nossa! Andava até de bermuda, com as canelinhas finas de fora só pra exibir a penugem. Pra depois a gente não querer mais tanto. Pelo menos em alguns lugares, que esses pêlos atrevidos nascem. Não mesmo. Ganha-se até uns 3 cm sem eles. Definitivamente.

Aí chega o ginásio. Uau. Semi-adulto já. Com 11 anos !!! (risos) Já sei um monte de coisas agora. Já descobri um monte. Sinceramente, ainda ficava em dúvida entre jogar bola ou conversar com meninas; no fundo mesmo, preferia jogar bola... Não entendia o porquê de 'ficar'. Achava legal, mas futebol era futebol. Pô. Entre baba e dribles, Olé!!!

Alguns começam a fumar. Outros a beber. Outros a dar o cú. Outros continuam querendo jogar futebol. Tirando o papo do cú, passei pelas outras 3 opções. Pra alguns anos depois descobrir mais coisas á respeito disso. Como o chão da rua é duro. E que tudo que minha mãe me falava, tudo - ELA ESTAVA CERTA. SEMPRE ESTEVE.

No resumo de tudo até hoje, ainda na casa dos 20, quase na dos 30, percebo várias coisas diferentes daquela época, claro. Outras iguais. Que eram boas e tinha esquecido.
Correria.

A luta, no geral, é para não deixar a vida me engolir. Não, não. Quando eu brincava com algum amigo e só. Quando conversava com um amigo, e só. Quando empinar um pipa, soltar um balão, queimar bombril e ficar rodando á noite, andar de patins, skate, bike, soltar bombinhas, ralar o joelho no asfalto com meu f-1 de rolimã era só isso. Simples, direto, honesto. Do jeito que tento me manter. Quando sexo não importava. Quando era só ser a gente, sem nada que os outros esperam de mim, influenciando. Me influenciando.

Ser amigo por ser amigo. Brigar e em 5 minutos 'dar o dedinho' e fazer as pazes. Hoje vejo brigas que duram anos. Ás vezes vidas. Quando se caía (já escreveram isso), e se levantava. Porque a brincadeira valia mais á pena do que ficar lá, estirado. Mais á pena do que ficar caído. Hoje vejo um monte de caídos. Me vejo muitas vezes também. Sem forças pra levantar. Ou será que vejo que a brincadeira não vale á pena? Pode ser também...

Hoje a pena para travessuras não são as palmadas da minha mãe ou broncas do meu pai. Vide as cadeias. Celas, super lotação, morte. PCC.

A minha turma do fundão era terrível, mas nem perto desses. Nós éramos arteiros. Artistas. Não marginais. Não mais.

Hoje quem corre atrás não são os vizinhos. É a polícia.



Hoje não veêm mais o filho da Dna. Vera e do Seu Oacyr. Veêm o Arthur. Indivíduo.

Sabe, numa boa. Nunca estive tão certo de uma coisa: O homem nasce sábio. Corajoso. Indomável. Invencível. Completo. Aí, com o passar dos tempos, vai perdendo. Deixa de ser inteiro pra querer encontrar uma cara-metade. Que porra de cara-metade, mermão!!?? Nasceu completo. Inteiro. Senão vinha só com 1 braço e 1 perna. 1 olho. 1 orelha(tomara que não seja meu lado esquerdo!). Sem coração. Seríamos incompatíveis. Mal respiraríamos.

Começamos a precisar de um monte de coisas que não precisamos. Implantado por outros homens em nossas mentes. Sabia que o espaço que a nicotina ocupa no cérebro, nunca mais será preenchido por nada? E que foi desenvolvida para este propósito mesmo?
Tipo: Venha para o mundo dos humanos...




Tempo, bicho doido! Demora pra passar e quando se vê, passou. Rima com vento, não é á toa. É sobrenome.

Ainda descubro coisas.

Mas não gostaria de guardar os medos, mágoas, cagaços, traumas que eu tenho. Mas esse é o preço da memória. Pra poder se guardar o sorriso da minha mãe. A risada roubada de lado do meu pai. A primeira respiração da minha filha. As vezes que abracei um amigo e encostamos em algum lugar pra rir. Rir que nem quando éramos pequenos. Rir sem o compromisso com o dinheiro. O status. A posição. Só rir.


Rir sem ter que ser independente. Já que a essência pode ser, mas independência é sinônimo de distância. Acreditamos na distância. Acreditamos?


Não dá pra saber. Não temos tempo mais para pensar 'nisso'. Este 'nisso' que nos tornamos. Supérfluos-superficiais.





Mestres de ilusões. Prefiro estudar e me tornar um M.C.- Mestre de cerimônia. Cerimônias são ancestrais.


As ilusões que o homem criou, como um monstro de laboratório, se rebelaram, fugiram e agora estão espalhadas pelo mundo. Através de texto e música tento exterminar com as que estão perto de mim e dos meus.
Igual os Caça-fantasmas e o papo do ectoplasma. Também tenho monstrinhos de estimação, igual o Geléia...



A infância é excelente, não pq não se tinha que trabalhar, era só brincar, comer e dormir. Isso não. Isso se consegue em alguns casos na vida adulta, e a cara dos adeptos nem sempre é de felicidade. Não que não seja feliz. Mas não é só felicidade.

Era excelente porque eu era um quadro em branco. Não tinha as marcas do arado na terra. Minha propriedade era plana. Não havia dinheiro, sexo e ego para me doutrinar. Este é o sistema. Te achei filho da puta! Te defini. Dinheiro, sexo e Ego.



A infância é a época de conhecimento absoluto. Voltemos á infância para obter as respostas que nos fogem e torturam.



A infância é a mola propulsora e o ponto de chegada. Que vivamos com os princípios da infância e com a sabedoria das experiências. Nunca deixaremos de ser a infância do futuro. Não vou deixar de ser puro, já que essa infância está muito 'espertalhona' pro meu gosto.



Afinal, eu só decido conscientemente quando conheço. Por isso que a gente cresce. Para conseguir agir com a sabedoria de um menino, sendo adulto. Conhecendo tudo e aí sim, optando pelo infantil, no melhor e mais puro sentido da palavra.

O olhar de infância está nos meus olhos. Certeza que não sou daqui. Certeza que já me perdi.
Já fui garoto, moleque, carinha...

Certeza que estou voltando a ser menino.

Menino.

Um comentário:

  1. "Ou será que vejo que a brincadeira não vale á pena? Pode ser também...". Cara, obrigada!!!!!
    Não deixe de escrever nunca. Ri, chorei, me vi. É isso: "Era excelente porque eu era um quadro em branco. Não tinha as marcas do arado na terra. Minha propriedade era plana. Não havia dinheiro, sexo e ego para me doutrinar. Este é o sistema. Te achei filho da puta! Te defini. Dinheiro, sexo e Ego". Adorei. Beijo e Tmo Jto.

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