segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Atrás do véu ? um Blue.


Ambiente: Um palco com o letreiro 'ON AIR' desligado na parte superior; espaço com poucos metros quadrados onde os músicos se apertam afim de mostrar seu melhor. Mesas enfileiradas imersas em um ambiente á meia luz. Sensual eu diria. Local perfeito para conversas reservadas; quase um esconderijo no meio do caos urbano. Aos fundos de um estacionamento velho e decaído.

Fumantes amontoam-se no espaço que segue logo antes da entrada, escondidos pelos vãos dos pilares mal acabados da construção rústica, afim de saciar a dependência que berra na mente e lateja no sangue, quase em ebulição.
''A miséria humana é ainda mais lastimável quando acompanhada do desespero''.

''21:12. Coincidência estúpida que teima em me perseguir junto com o 1234 nos mais diversos modos e locais...foda-se''

Me acomodo em uma mesa próxima ao canto mais escuro. Peço uma bebida. Olho o passar das pessoas como se eu não estivesse ali.
''-Quantos estão ali pelo motivo certo? Existe o certo? ''.

A bebida chega. Acendo um cigarro. Tenho mais uns 14 amigos pra me fazerem companhia esta noite. E minha intenção é queimá-los todos. Da mesma forma que queimo e excluo aqueles que se dizem amigos, mas no fundo, me fazem mal. Descarto-os como bitucas de cigarro ao chão. Apago-os como o sol faz com as estrelas.

E por falar em se apagar, as extintas e minguadas luzes do ambiente se apagam de vez. O pequeno letreiro se acende. Os músicos estão para iniciar a Jam. Prontos p'ra entrar 'ON AIR'. Me torno só ouvidos.

Um bom blues. Uma boa bebida. A ótima companhia solitária de quem se ama. Ou pelo menos finge isso muito bem. Os cubos de gelo se esvaem vagarosamente, conforme os pensamentos naquela mulher do passado se estendem. E a trama não é desfeita na mente. Fusão de um colecionador de decepções. Passado e futuro se embaralham.

A guitarra chora as lágrimas que não vejo há muito tempo tombarem e rolarem do meu rosto. Como aquele outro blues.
01:30 de boa música passa como se fossem 10 mins do mundo normal.
''Einstein acertou mesmo na relatividade'' - ironizo. Um meio sorriso de deboche foge por um dos cantos da boca. O deboche de quem sabe, vez por outra, sorrir de si mesmo.

Acendo mais um cigarro, ao final da apresentação do Blue de Blues Boy King: ''Lucille''.
''Um blues sempre fala de um homem e uma mulher apaixonados''. Os verdadeiros sim.

Saio sem ser notado em meio á luz bem fraca do antigo e pequeno luminoso. Ninguém enxerga meu rosto. Semblante fechado.

Sigo pelo corredor estreito até a porta que me leva á saída.

Sumo no nevoeiro da madrugada, deixando para trás o ambiente, a fumaça dos cigarros e as lágrimas que não chorei.


A música me acompanha na cabeça.

As dúvidas também.

4 comentários:

  1. Blues, Blues...sensual...onde as mulheres dançam...os cigarros demoram pra acabar...as bebidas tem um gosto diferente...as Guitarras gritam e choram ao mesmo tempo...é o som da alma...

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  2. The Sky is crying..... Benditas as dúvidas boas. ;)

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  3. Nancy, adoro a sua sabedoria. Adoro, definitivamente.

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  4. Po Gui, foi a melhor descrição de um ambiente de Blu que eu já vi. Precisa.

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